segunda-feira, setembro 24, 2007

A doutrina da ordenação na Assembléia de Westminster

Ordenação é o ato solene de chamar publicamente um oficial, em que os presbíteros da igreja, em nome de Cristo, e para a igreja, por um sinal visível, designam a pessoa, e ratificam a sua dedicação para o seu ofício; com oração e abençoando os seus dons para a ministração.


Extraído de John Lightfoot, Journal of the Proceedings of the Assembly of Divines (London, 1824), p. 115 citado por Brian Schwetley, A Historical and Biblical Examination of Woman Deacons (texto não publicado) consultado: www.reformedonline.com/view/reformedonline/deacon.htm em 07/03/2007.

sexta-feira, setembro 21, 2007

O ensino de Cristo acerca da pessoa divorciada

Pode-se presumir que a proibição de Cristo de se contrair um segundo casamento para a mulher que se divorciou de seu marido (Mc 10:12) e, a proibição similar de Paulo (1 Co 7:11) com referência a uma mulher separada de seu esposo tem ambas que ver com casos em que a causa do divórcio, ou separação não foi o adultério, ou o abandono irremediável. Em tal caso a mulher deve reconhecer o seu pecado ao causar a separação e, se é possível, deve retornar a sua relação matrimonial original. Ela não pode contrair segundo casamento a não ser que o seu marido tenha rompido o matrimônio por outra união.

A regra em Mt 5:32 e em Lc 16:18 que ensina que um homem que se casa com uma mulher divorciada deve ser considerado como adúltero, parece ser muito raro à luz da estipulação mosaica de que a mulher divorciada que “saiu da sua casa [de seu primeiro esposo], poderá ir e se casar com outro homem” (Dt 24:2). Não é possível pensar que Cristo contradiria a lei mosaica ou que instruiria em contraste sem oferecer algum comentário quanto a isto. Recordando o princípio de que não temos o ensino bíblico sobre qualquer assunto até que examinemos todas as passagens pertinentes, devemos observar que o contexto mosaico disse que se o segundo marido se divorcia da mulher envolvida, o seu primeiro marido não tem liberdade de recebê-la de volta como esposa. O propósito óbvio desta lei é de proibir um promíscuo intercâmbio de esposas. Sendo que Cristo se referia diretamente à lei mosaica pode-se supor que as suas observações sobre o casamento de uma mulher divorciada sejam tomadas como uma alusão a Dt 24:3-4, e não como uma contradição de Dt 24:2. Isto seria perfeitamente claro nas circunstâncias em que ocorreram os diálogos de Cristo sobre o tema.

Extraído de James Oliver Buswell, Jr.,
A Systematic Theology of the Christian Religion, vol. 1, págs. 389-390

sábado, setembro 15, 2007

Moralidade e verdade

Não existe uma antítese entre verdade intelectual e moralidade como superficialmente algumas mentes imaginam. Uma mentira, que é a negação da verdade, é imoral. Ela é pecado por pensar incorretamente. Quando uma pessoa pensa que é proveitoso roubar, ou quando alguém dos antigos raciocina que eles poderiam livrar-se do desgosto por sacrificar a um ídolo, a sua falsa opinião era pecado. Não pode existir tal coisa como moralidade, a menos que existam verdadeiros princípios morais. Moralidade depende da verdade.

Extraído de Gordon H. Clark, The Johannine Logos, págs. 68

quinta-feira, setembro 06, 2007

A tarefa do teólogo

O teólogo reformado, todavia, edifica esta ordem de apresentação sobre o fundamento de que todo o conhecimento de Deus é fruto de Sua revelação. Então, o dogmático precisa primeiro determinar o que Deus nos dá a conhecer acerca de Si mesmo, e assim, que tipo de relacionamento existe com o Deus que criou o homem, e qual relacionamento o homem mantém com Ele agora, e finalmente o que Deus tem realizado e revelado para a Sua glória e para o eterno fim do homem, e também a maneira pela qual o Senhor de acordo com o Seu soberano beneplácito tem consumado a redenção até a perfeita glória.

Extraído de G.H. Kersten, Reformed Dogmatics, vol. 1, p. xv

Definição de Teologia Sistemática

É o estudo metodológico da Bíblia que analisa a Escritura Sagrada como uma completa revelação, em distinção das disciplinas de Teologia do Antigo Testamento, Teologia do Novo Testamento e Teologia Bíblica, as quais se aproximam das Escrituras como uma revelação progressiva. Deste modo, o teólogo sistemático analisa as Escrituras como uma revelação completa, buscando entender holisticamente o plano, propósito e a intenção didática da mente divina revelada na Sagrada Escritura, e organizar este plano, propósito e intenção didática de modo ordenado e apresentação coerente como artigos da fé cristã.

Extraído de Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith, p. xxv-xxvi

O segundo princípio da Dogmática

Deus fala de si e para si mesmo. Ele é o sujeito e o predicado de todo o seu discurso. quando declaramos que Deus fala, poderíamos ser cuidadosos em enfatizar que o seu discurso é eternamente perfeito e que não está limitado pelas imperfeições do tempo e da mudança, assim como é o discurso humano. De eternidade a eternidade Deus expressa a inteira plenitude de sua infinita mente e ouvimos as suas palavras.

Extraído de Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, vol. 1, págs. 25

Inerrância das Escrituras

Os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo Espírito Santo, envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, e que eles foram preservados livres de todo erro, fazendo com que os seus escritos fossem plenamente autênticos e divinos.

Extraído de William G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 1, pág. 72

terça-feira, agosto 28, 2007

A certeza da salvação e justificação

O mundo calvinista estabeleceu, com base na doutrina da Assembléia de Westminster, que a certeza da esperança não é parte essencial da fé salvadora; para que muitos crentes pudessem ser justificados ainda que não tenham esta segurança: e possam permanecer por muito tempo sem ela; mas, ainda assim, uma certeza infalível fundamentada na comparação do seu coração e vida com a Escritura, e o ensino e a luz do Espírito Santo, por meio da Palavra, é o privilégio e deve ser o alvo de todo verdadeiro cristão.

Extraído de Robert L. Dabney, Lectures on Systematic Theology, pág. 702

segunda-feira, agosto 27, 2007

A influência do sistema calvinista

O sistema de Calvino é reflexo de sua mente - severa, grande, lógica, ousada - para elevar-se às alturas; contudo, humilde em retornar sempre às Escrituras como sua base. Fundamentando-se no trono de Deus, Calvino percebe tudo à luz do decreto eterno divino. O homem em seu estado de pecado perdeu a sua libertade espiritual e o poder de fazer algo que seja verdadeiramente bom, ainda que Calvino admita livremente a existência da virtude natural, e a atribua à operação da divina graça, inclusive em seu estado não regenerado (Institutas II. 2. 12-17). A providência de Deus governa e abrange tudo, tanto o natural como o espiritual. Tudo o que acontece é o iluminar do conselho eterno. Tudo o que é atraído ao reino de Deus, o é por um ato livre da graça, e ainda assim a omissão dos não salvos deve ser atribuída a uma origem na vontade divina eterna, por mais misteriosa que seja. A vontade de Deus, deste modo, contém em si as razões últimas de tudo o que existe. Não é arbitrária, mas, uma vontade santa e boa, ainda que as razões do que ocorre na realidade no governo do mundo nos sejam inescrutáveis.

A comunidade de sua Igreja se extende a muitos países. O seu sistema entra como um ferro no sangue das nações que a receberam. Levantaram-se os huguenotes franceses, os puritanos ingleses, os escoceses, os holandeses, os da Nova Inglaterra; gente valorosa, livre e temente a Deus. Prostrando o homem diante de Deus, mas exaltando-o novamente na consciência de uma libertade, nascida de novo em Cristo; mostrando a sua escravidão por causa do pecado, mas restaurando-o na liberdade mediante a graça; guiando-o para que veja todas as coisas à luz da eternidade, contribuiu para formar um tipo vigoroso, mas nobre e elevado de caráter, criou uma raça que não se intimida em levantar a cabeça diante dos reis.

Extraído de James Orr, El Progreso del Dogma, pág. 233

quarta-feira, agosto 22, 2007

Circumincessio

A Escritura apresenta uma sensível avaliação entre as diferenças entre as Pessoas da Trindade e o Seu mútuo envolvimento, e eu necessito dizer mais a respeito deste último assunto. Circumincessio, circumcessio, circumssion, perichoresis, e coinherence são termos técnicos para a mútua relação das Pessoas: o Pai no Filho, e o Filho nEle (Jo 10:38; 14:10-11, 20; 17:21); e ambos no Espírito, e o Espírito nEles (Rm 8:9). Ver Jesus é ver o Pai (Jo 14:9), porque Ele e o Pai são um (10:30). Após Jesus deixar a terra, ele "viria" no Espírito para estar com o Seu povo (14:18).[1]

Todas as três Pessoas estão envolvidas em todas as obras de Deus da Criação.[2] Como temos observado o Pai (Gn 1), o Filho (Jo 1:3; Cl 1:16), e o Espírito (Gn 1:2; Sl 104:30) estão envolvidos na obra da criação. O mesmo é verdade quanto à providência, e, do mesmo modo a redenção o juízo final. Isto não significa que as três Pessoas atuam da mesma forma nestes eventos. O Pai, e não o Filho, enviou Jesus ao mundo para redimir o Seu povo; o Filho, e não o Pai, ou o Espírito, incarnou para morrer sobre a cruz pelos nossos pecados. De fato, no momento da morte, Ele estava, do mesmo modo misterioso, desamparado pelo Seu Pai (Mc 15:34). O Espírito, e não o Pai nem o Filho, veio sobre a Igreja com poder no dia de Pentecostes (enviado pelo Pai e pelo Filho [Jo 14:15-21]), apesar do Filho vir à nós pelo Espírito.

De acordo com 1 Pe 1:1-2, o Pai é o único que predetermina, o Filho é o único que asperge o sangue, e o Espírito é o único que santifica. Esta é uma generalização acerca das diferentes tarefas das Pessoas da Divindade: o Pai planeja, o Filho executa e o Espírito aplica. Mas, de acordo com Pedro não existe aqui a descrição de uma precisa divisão da obra. Ele reconhece que todos os eventos exigem a concorrência de todas as três Pessoas.

Notas:
[1] Relembrando que Jesus também compara a mútua habitação dos membros da Trindade com (1) o habitar das pessoas da Divindade nos crentes, e (2) a unidade dos crentes uns com os outros (Jo 17:21-23). De fato, estas são analogias, e não identidades, pois não podemos saber exatamente como Deus é. Mas podemos apoiar um ao outro, e assim glorificar um ao outro, como os membros da Trindade fazem. Para mais implicações deste princípio para a vida cristã veja o meu artigo "Walking Together" no site http://www.thirdmill.org/, Online Magazine 1:17-18 (21 e 28 de Junho e 4 de Julho de 1999).
[2] Existe a opera ad extra na tradicional terminologia, ou seja, as obras de Deus que estão terminadas fora Dele. Há também atos que Deus realiza internamente em Seu Ser (opera ad intra) nos quais somente uma das Pessoas está envolvida, como a geração do Filho pelo Pai. Discutirei posteriormente este assunto.

Extraído de John M. Frame, The Doctrine of God, págs. 693-694

terça-feira, agosto 14, 2007

O conhecer a Deus

Como a majestade de Deus ultrapassa em si mesma a capacidade do entendimento humano e inclusive lhe é incompreensível, temos que adorar a sua grandeza mais do que examiná-la para que não nos encontremos afligidos com tão grande percepção. Por isto devemos buscar e considerar a Deus em Suas obras, às quais a Escritura chama, por esta razão, de "manifestações das coisas invisíveis" (Rm 1:19-20; Hb 11:1), pois nos manifestam o que de outro modo não podemos conhecer do Senhor.

Extraído de Juan Calvino, Breve Instrucción, págs. 10-11

sexta-feira, agosto 10, 2007

Perseverança em Paulo

Paulo, basicamente, ensina uma espécie de permanência dos cristãos escolhidos por Deus, e chamados pela fé em Jesus Cristo, com base em sua eleição. Paulo está seguro de que o mesmo Deus que é o autor e doador da salvação, deseja também em amor onipotente, e ininterrupta fidelidade, completar até o fim a salvação daqueles que foram eleitos e chamados por Ele, e que em Cristo pela fé, demonstram o seu comportamento fundamental. (...) A coragem e a consistência das epístolas de Paulo caracterizam a sua visão de permanência na salvação em sua própria vida, e não há nenhum resultado claro ou importante que evidencie o contrário.

Extraído de Judith M. Gundry Volf, Paul & Perseverance: Stayind In and Falling Away, pág. 286-287

quarta-feira, agosto 08, 2007

O que é fé salvadora?

A fé salvadora é a obra de Deus no pecador que foi eleito, regenerado e chamado, e por meio dela o pecador é enxertado em Cristo e recebe e apropria-se de Cristo e todos os Seus benefícios, confiando nEle no tempo e por toda eternidade.

Extraído de Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, pág. 62

sábado, agosto 04, 2007

A Igreja Católica é a Igreja verdadeira?

É certo que somos pecadores e abundam os vícios entre nós, e que muitos de nós caimos freqüentemente e desfalecemos muitas vezes; todavia, a vergonha me impede ter o atrevimento de vangloriar-me (até onde a verdade o permite) de sermos melhores que vocês e isto em todos os aspectos. Contando que não pretenda, porventura, exceptuar a Igreja Católica Romana, formosíssimo santuário de toda santidade, a qual uma vez aberta as cortinas das janelas e, desfeitas as barreiras da autêntica disciplina e pisoteada a honestidade, está tão transbordante de toda espécie de maldades que com grande dificuldades poderá se achar em toda a história um exemplo semelhante de tão grande abominação.

Extraído de Juan Calvino, Respuesta al Cardenal Sadoleto, pág. 53

quinta-feira, agosto 02, 2007

A bondade de Deus

A observação que intenciono firmar é esta: - a pura e perfeita bondade é uma prerrogativa somente de Deus. A bondade é uma perfeita escolha da Divina natureza. Este é o verdadeiro e genuíno caráter de Deus; pois, Ele é bom, Ele é bondoso, bom em Si mesmo, bom em Sua essência, bom no mais alto grau, possuidor de tudo o que é mais agradável, excelente e desejável. O mais alto bem, porque Ele é o primeiro bem: Deus é de tudo o que é mais bondoso; de tudo o que é mais verdadeira bondade em alguma criatura, é uma semelhança de Deus. Todos os nomes de Deus são compreendidos em Sua bondade. Todos os dons, todas as variedades de bondade são contidas nEle como um bem comum.

Extraído de Stephen Charnock, The Existence and Attributes of God, vol. 2, pág. 215

quarta-feira, agosto 01, 2007

A segurança do sistema presbiteriano

Em nenhuma parte do Novo Testamento encontramos alguma referência para a designação de somente um presbítero, ou apenas um diácono, para realizar uma tarefa. A nossa tendência seria nomear um líder, mas a sabedoria de Deus é superior a nossa. Ao nomear várias pessoas para trabalhar juntas, a igreja, sob a direção de Deus, facilitou a motivação mútua entre aqueles que compartilham o trabalho, assim como diminuiu o risco do orgulho e a tirania no cargo.

Extraído de James M. Boice, Foundations of the Christian Faith, pág. 632

quarta-feira, julho 25, 2007

Arrependimento e remorso

Judas sentiu profundo remorso por ter traído Jesus. Ele se sentiu como um perfeito miserável acerca do que havia feito. Contudo, ele foi e se enforcou. Ainda que ele tenha sentido remorso em ter “traído sangue inocente” (Mateus 27:4), toda a sua tristeza estava centrada em si mesmo. Na verdade ele não se arrependeu, porque senão ele teria imediatamente buscado o perdão do Salvador. O seu sentimento foi simplesmente o remorso de alguém que repentinamente se horroriza daquilo que fez. Sim, ele se entristeceu: a sua tristeza envolveu o que fez, e a tristeza pelas conseqüências. Mas, foi só isso.

Extraído de Calvin Knox Cummings, Confessing Christ, págs. 34-35.

sábado, julho 21, 2007

A regeneração é irrevogável

A natureza da mudança efetuada na regeneração é uma garantia suficiente de que a vida implantada será permanente. A regeneração é uma transformação radical e sobrenatural da natureza interna, mediante a qual a alma é vivificada espiritualmente, e a nova vida implantada é imortal. Visto que esta mudança ocorre na natureza interna, ela está situada numa esfera sobre a qual o homem não possuí controle. Nenhuma criatura possuí liberdade de mudar os princípios fundamentais de sua natureza, já que isso é prerrogativa de Deus, como criador.

Extraído de Loraine Boettner, La Predestinación, p. 157

sexta-feira, julho 20, 2007

A contínua ação do Espírito no salvo

É uma inferior e indigna avaliação da sabedoria do Espírito Santo e da Sua obra no coração [humano], supor que Ele comece a obra agora e, logo em seguida a abandone; que a centelha vital do nascimento celestial seja um ignis fatuus, ardendo por um pouco e, depois expirando em total escuridão.

Extraído de Robert L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, p. 692

A causa da Perseverança dos salvos

Deus não foi induzido a dar a sua graça ao pecador, em primeira instância por haver visto algo meritório, ou atrativo no pecador que se arrepende; portanto, a subseqüente ausência de todo bem no pecador não pode ser um motivo novo para que Deus retire dele a sua graça. Quando Deus conferiu a sua graça ao pecador, ele sabia perfeitamente que o pecador era totalmente depravado e odiável; portanto, nem a ingratidão, nem a infidelidade por parte do pecador convertido pode ser motivo que induza a Deus de mudar de opinião, ou seja, para retirar sua graça. Deus disciplinará tal ingratidão e infidelidade retirando temporariamente o seu Espírito, ou suas misericórdias providenciais; mas se o seu propósito desde o princípio não fosse de suportar tais pecados e perdoá-los em Cristo, ele não teria sequer chamado ao pecador. Em outras palavras, as causas pelas quais Deus determinou conferir o seu amor eletivo ao pecador se encontram totalmente Nele, e não no crente; conseqüentemente, nada no coração, ou na conduta do crente pode finalmente alterar esse propósito divino.

Extraído de R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, p. 690-691

A causa e efeito na Perseverança dos salvos

O amor soberano e imerecido é a causa do chamamento eficaz do crente (Jr 31:3; Rm 8:30). E como a causa é imutável, o efeito também o é. O efeito é a contínua comunicação da graça ao crente em quem Deus começou uma boa obra.

Extraído de R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, p. 690

segunda-feira, julho 09, 2007

Uma era pós-Protestante

Vivemos hoje (por assim dizer, e, eu sinto remorso em dizer a verdade) numa era pós-Protestante. O interesse espiritual da Reforma está longe de ser um interesse. Um atitude materialista e uma filosofia humanista caracterizam a nossa civilização. Como Nietzche disse "Deus está morto". Esta é uma era de crescentes guerras e crimes. Assassinato e estupro ocorrem em público, nas ruas, nos metrôs e os cidadãos de New York recusam-se envolver. Legisladores estão abolindo a punição capital: e em vez de punir o criminoso, o estado reabilita-o, de modo que em sete anos o assassino recebe liberdade condicional, às vezes voltando a matar. Tais são os resultados do liberalismo, de se banir Deus e a ética cristã das escolas públicas, de se negar a Bíblia, os seus milagres e a sua salvação. Sob estas condições um retorno à Lutero e Calvino, um retorno ao Protestantismo, um retorno à Bíblia poderia não ser o pior fato imaginável.

Extraído de Gordon H. Clark, Essays on Ethics and Politics, pág. 103

terça-feira, junho 19, 2007

Batismo infantil: um meio de graça

O Batismo administrado ao menino fortalece estes pensamentos [de consagração] nos pais e na Igreja, e determina as normas da educação cristã segundo a pedagogia do pacto. Em torno do menino, ainda completamente dependente dos demais e, do meio em que vive, cria-se um clima de graça e amor do qual ele é o beneficiário imediato. Por isso, cremos poder afirmar que isto é uma forma direta pela qual o seu batismo é imediatamente um meio de graça para ele. Pouco a pouco, o menino assumirá independência, refletirá nestas coisas; necessitará de muito tempo - talvez deva esperar ser pai -, para ter consciência dos benefícios que recebeu, e ser agradecido, apreciando até que ponto foi marcado e enriquecido, desde os primeiros dias de sua vida, pelo cuidado que foi objeto por parte de quem lhe educou na fé e nas promessas do pacto, significadas e seladas em seu próprio batismo.

Extraído de Pierre Ch. Marcel, EL BAUTISMO - Sacramento del Pacto de Gracia, p. 231

sábado, junho 16, 2007

Novas revelações e o Nono Mandamento

Deus condena a mentira espiritual de modo muito mais severo do que nenhuma outra espécie de mentira. Da mesma maneira, aqueles que se declaram mestres dos demais serão julgados de uma forma muito mais estrita (Tg 3:1). Esta é a época do absolutamente instantâneo e, que não se contentam com a tarefa de aplicar as questões dos nossos dias ao estudo da revelação da Escritura de Deus, pois existem muitos que preferem as novas e imediatas profecias. Algumas são entregues na primeira pessoa [eu declaro], como se fosse o próprio Deus quem estivesse falando. Grande parte de tudo isto é falso, e resulta em algo muito grave porque se confronta com a condenação deste Mandamento: "não dirás falso testemunho contra o teu próximo" (Êx 20:16). Uma coisa é dar a nossa opinião sobre os acontecimentos vindouros, e outra muito diferente é reinvindicar uma autoridade divina para a nossa imaginação.

Extraído de Brian H. Edwards, Los Diez Mandamientos para hoy, p. 319

quarta-feira, maio 30, 2007

Ética absoluta

A ética está em conformidade com certos padrões, princípios e leis. Ela pressupõe e tacitamente assume que existe um padrão, uma lei acima de um ser ético, e que este ser ético está obrigado a ser e agir em conformidade com este padrão.

Extraído de Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, vol.1, p. 132

quarta-feira, maio 16, 2007

O Catecismo Menor de John Owen

Perg. Onde podemos encontrar toda a verdade acerca de Deus e a nosso respeito, que necessitamos aprender?
Resp. Na da santa Escritura, a Palavra de Deus. – Cap. 1 do Catecismo Maior.

Perg. Qual o ensino da Escritura do que Deus é?
Resp. Um eterno e santíssimo Espírito, sendo doador de todas as coisas, e realiza com elas tudo quanto lhe agrada. – Cap. 2.

Perg. Há somente um Deus?
Resp. Um somente, no que concerne a sua essência e Ser, mas um em três distintas Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. – Cap. 3.

Perg. Além disto, o que é declarado na Palavra acerca de Deus, que temos a obrigação de saber?
Resp. Os Seus decretos e as Suas obras. – Cap. 4.

Perg. O que são os decretos de Deus no que se refere a nós?
Resp. O Seu eterno propósito, da salvação apenas por Jesus Cristo, para a adoração de sua glória, e a condenação dos demais em seus pecados. – Cap. 5.

Perg. O que são as obras de Deus?
Resp. São os atos ou realizações do seu poder, pelos quais criou, sustenta, e governa todas as coisas. – Cap. 6.

Perg. O que é-nos exigido em relação ao Todo-Poderoso Deus?
Resp. Santidade e obediência espiritual, de acordo com a sua lei, que nos foi entregue. – Cap. 7.

Perg. Somos capazes de cumprir esta exigência por nós mesmos?
Resp. Não, de modo algum, sendo por natureza em toda boa obra reprovados. – Cap. 7

Perg. Como nos passamos para este estado, sendo que fomos, primeiramente, criados à imagem de Deus, em justiça e inocência?
Resp. Pela queda de nossos primeiros pais, que quebraram o pacto de Deus, perdendo a sua graça, e merecendo a sua maldição. – Cap. 8

Perg. De que modo, podemos ser salvos deste miserável estado?
Resp. Somente por Jesus Cristo. – Cap. 9

Perg. O que é Jesus Cristo?
Resp. Deus e homem, unidos em uma pessoa para ser um mediador entre Deus e o homem. – Cap. 10.

Perg. O que ele é por nós?
Resp. Um Rei, um Sacerdote e um Profeta. – Cap. 11.

Perg. De que modo ele exerce o seu poder real sobre nós?
Resp. Em converter-nos a Deus pelo seu Espírito, dominando-nos para a sua obediência, e corrigindo-nos pela sua graça. – Cap. 12.

Perg. De que modo o exercício de seu ofício sacerdotal é por nós?
Resp. Oferecendo a si mesmo como um sacrifício aceitável sobre a cruz, satisfazendo deste modo, a justiça de Deus pelos nossos pecados, e removendo a sua maldição de nossas pessoas, e trazendo-nos a Ele. – Cap. 13.

Perg. De que modo Cristo exerce o seu ofício profético para nós?
Resp. Revelando aos nossos corações, do íntimo do Pai, o caminho e a verdade, através da qual, precisamos ir a Ele. – Cap. 13.

Perg. Em que condição Jesus Cristo exerce estes ofícios?
Resp. Ele o fez num estado inferior de humilhação na terra, mas, agora num glorioso estado de exaltação no céu. – Cap. 14.

Perg. Por quem Cristo realizou todas estas coisas?
Resp. Somente pelos eleitos. – Cap. 15.

Perg. O que é a igreja de Cristo?
Resp. A universal comunhão dos eleitos de Deus, chamados para a adoção de filhos. – Cap. 16.

Perg. Como podemos nos tornar membros desta igreja?
Resp. Por uma fé vivificadora. – Cap. 17.

Perg. O que é a fé vivificadora?
Resp. Um garantido descanso da alma sobre as promessas de Deus, da misericórdia em Cristo Jesus, para o perdão dos pecados, aqui e na glória. – Cap. 18.

Perg. Como podemos ter esta fé?
Resp. Pela eficaz obra do Espírito de Deus em nossos corações, livremente chamando-nos do estado natural para o estado de graça. – Cap. 18.

Perg. Somos considerados justos pela nossa fé?
Resp. Não, mas tão somente pela justiça de Cristo, livremente imputada a nós, e recebida pela fé. – Cap. 19.

Perg. Não há nada mais exigido de nós do que a fé somente?
Resp. Sim, também o arrependimento, e a santidade. – Cap. 20.

Perg. O que é arrependimento?
Resp. Um abandono de todo pecado, com sincera tristeza pelo que temos cometido. – Cap. 20.
Perg. Qual é a santidade que é exigida de nós?
Resp. A obediência universal a toda vontade de Deus que nos é revelada. – Cap. 20.

Perg. Quais são os privilégios dos crentes?
Resp. Primeiro, a união com Cristo; segundo, a adoção de filhos; terceiro, a comunhão dos santos; quarto, o direito aos selos do novo pacto; quinto, a liberdade cristã; sexto, a ressurreição do corpo à vida eterna. – Cap. 21.

Perg. O que são os sacramentos, ou selos do novo pacto?
Resp. São os selos visíveis das promessas espirituais de Deus que nos foram feitas no sangue de Jesus Cristo. – Cap. 22.

Perg. Quais são eles?
Resp. O Batismo e a Ceia do Senhor.

Perg. O que é o Batismo?
Resp. Uma santa ordenança, pela qual, aspergindo água, conforme com a instituição de Cristo pela sua graça somos feitos filhos de Deus, e temos as promessas do pacto selada em nós. – Cap. 23.

Perg. O que é a Ceia do Senhor?
Resp. Uma santa ordenança de Cristo, designada para comunicar espiritualmente aos crentes seu o corpo e sangue, sendo representados pelo receber do pão e vinho abençoados, partido, bebido.

Perg. Quem tem direito a estes sacramentos?
Resp. Somente aqueles que têm por Cristo um interesse pela fé. – Cap. 24

Perg. O que é a Comunhão dos Santos?
Resp. Um santo ajuntamento entre todo o povo de Deus, participantes do mesmo Espírito, e membros do mesmo corpo místico. – Cap. 25.

Perg. Qual é o fim de toda esta dispensação?
Resp. A glória de Deus em nossa salvação.

Glória seja a Deus nas alturas!

Extraído de John Owen, Works' John Owen in: Christian Master Library CD-Room.

sexta-feira, maio 11, 2007

Prefácio de John Owen aos seus Catecismos

Aos meus entes amados e amigos cristãos[1]

Irmãos

O desejo do meu coração e súplica a Deus por vocês, é que todos sejam salvos. Também, afirmo a verdade em Cristo, não minto, pois minha consciência me leva a testemunhar no Espírito Santo, que, com grande desconforto, e contínua tristeza em meu coração, pois, há quem dentre vocês, que anda desordenadamente e não busca o Evangelho, pouco se esforçando para familiarizar-se com os mistérios da divindade; pois estes que assim procedem, de quem tenho falado, muitas vezes chorando, e agora continuo afirmando com tristeza, que eles são inimigos da cruz de Cristo, o seu fim é a destruição, pois o seu deus é seu ventre, e a sua mente é mundana. Irmãos, vocês conhecem como tenho me portado dentre vocês, e da maneira como passei aqueles poucos anos, e como nada tenho omitido (o máximo da atribuição a mim confiada), e que para vocês fosse proveitoso; mas, tenho lhes apresentado e ensinado, publicamente, e de casa em casa, testificando a todos do arrependimento que deve ser dirigido a Deus, e da fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Então, com a sinceridade que tenho exercido, com aquele sucesso por vocês recebido, Deus o justo Juiz um dia declarará; pois, diante dEle, tanto vocês, como eu apareceremos, para prestarmos conta da dispensação do glorioso Evangelho entre nós; - entretanto, o desejo do meu coração é ser servo, o menor entre vocês na obra do Senhor; e que de algum modo, consiga conceder para vocês algo proveitoso, - a cada um ou a suas famílias. Então, dentre os meus esforços desta natureza, depois da ordenança da pregação pública da Palavra, não há, eu creio, nada mais necessário (como todos admitirão que sabem da situação deste lugar, o que tenho ensinado nesses últimos dias, àquelas pessoas totalmente ignorantes) do que a catequização; que tem me motivado separar algumas horas, para a compilação deste texto, o que também, tenho procurado imprimir, porque simplesmente uma pequena parte da paróquia é capaz de lê-lo; - minha intenção nestes catecismos, é principalmente firmar aquelas verdades necessárias em que vocês foram em minha pregação mais plenamente instruídos. Como eles são e o seu uso lhes apresentarei num resumo abaixo:

1. O Catecismo Menor pode ser estudado por todos os jovens,[2] podendo ser lido, para que se responda a todas as suas questões.
2. O Catecismo Maior trará à sua mente muito do que lhes foi ensinado em público, especialmente acerca da Pessoa e ofícios de Jesus Cristo.
3. Além do que, vocês podem ser auxiliados ao instruir as suas famílias [no culto doméstico] com o Catecismo Menor, sendo assim edificado, para mais uma parte, onde cada capítulo é estudado em desdobramento de uma questão a outra.
4. Os textos citados da Escritura devem ser cuidadosamente procurados e analisados, para que saibam indicar onde estes ensinos assim estão.
5. Lendo a Palavra vocês podem ter luz no significado de muitos lugares, considerando que eles são escolhidos para confirmação.
6. Deixei de comentar a doutrina dos Sacramentos, porque já tenho examinado tão freqüentemente acerca deles.
7. Omiti completamente acerca da prática dos deveres morais, pois, pela assistência de Deus, tenciono fazer lhes uma breve explicação da Oração do Senhor, e os Dez Mandamentos, com alguns artigos do Credo, não discorrendo estes assuntos, por si mesmos, mas pelo método de pergunta e resposta.

Assim, em tudo isto, como as aflições foram minhas, oro para que o benefício possa ser de vocês, e a adoração seja Dele, a quem somente todo bem que há nisto, ou alguma coisa além, que Lhe seja atribuído. Então, que o Deus do céu continue com aquela paz, amor e comunhão entre nós, que até aqui tem sido inabalável, nestes tempos divididos, e permita que o aroma e o reino do Seu Filho possa ser gloriosamente em seus corações, edificado; que as coisas concernentes a sua paz, não sejam ocultadas dos seus olhos naquele dia; sendo esta a oração diária do...

Seu servo na obra do Senhor,
John Owen
Do meu estudo,
Setembro de 1645.

Notas:
[1] O inglês utilizado por John Owen é muito arcaico (1645), e a sua estrutura de pensamento é difícil de acompanhar, todavia, na tradução houve a tentativa de simplificar a sua linguagem.
[2] Certamente Owen pressupõe aqui adolescentes e crianças.

Extraído de John Owen, Works' John Owen in: Christian Master Library CD-Room.

quinta-feira, maio 10, 2007

O testamento de Calvino

A última vontade e testamento de João Calvino

Em nome de Deus, seja conhecido de todos os homens e por aqueles que estão presentes, que no dia 25 de Abril do ano de 1564, eu Peter Chenelat, cidadão e tabelião de Genebra, fui procurado pelo honrado João Calvino, ministro da Palavra da Deus na Igreja de Genebra, e burguês da dita Genebra, que estando doente e indisposto em corpo somente, declarou-me a sua intenção de fazer o seu testamento e declaração de sua última vontade, solicitando-me escreve-la conforme poderia por ele ser ditada e pronunciada no seu declarado desejo, tenho feito, e escrito-a sob a sua ordem, e de acordo com o que ele ditou e pronunciou, palavra por palavra, sem omitir ou, acrescentar nada – na forma como segue:

Em nome de Deus, eu João Calvino, ministro da Palavra de Deus, na Igreja de Genebra, sentindo estar em declínio [de saúde], por causa de diversos males, e que não posso senão pensar que isto seja da vontade de Deus para tirar-me em breve deste mundo, e sendo aconselhado a fazer e firmar por escrito o meu testamento e declaração da minha última vontade da forma como segue:
Em primeiro lugar, dou graças a Deus, não só porque teve compaixão de mim, uma pobre criatura sua, ao tirar-me do abismo da idolatria no qual eu estava atolado, de modo a guiar-me para a luz do seu evangelho e tornar-me um participante da doutrina da salvação, da qual eu era inteiramente indigno, e continuando em sua misericórdia, Ele tem me suportado em meio a muitos pecados e oscilações, que eram tais, que eu bem merecia ser rejeitado por Ele uma centena de vezes – mas pelo contrário, Ele estendeu-me a sua misericórdia para que eu e meu labor pudéssemos conduzir e anunciar a verdade do seu evangelho; protestando que é meu desejo viver e morrer nesta fé, a qual foi-me conferida, não possuindo outra esperança, nem refúgio, exceto em sua gratuita adoção, sobre a qual toda a minha salvação está fundamentada; abraçando a graça que Ele tem-me entregue, em nosso Senhor Jesus Cristo, e aceitando os méritos da sua morte e sofrimento, de modo que, por estes meios, todos os meus pecados estão sepultados; e orando-lhe para lavar-me e purificar-me pelo sangue deste grande Redentor, que foi derramado por nós, pobres pecadores, que eu possa comparecer diante de sua face, carregando a sua imagem tal como ela era.
Também protesto que tenho diligentemente, de acordo com a medida da graça que me é dada, ensinar a sua Palavra com pureza, tanto em meus sermões como em meus escritos, e expondo fielmente a Sagrada Escritura; e ainda, que em toda disputa que tive com os inimigos da verdade, nunca fiz uso de sutis artimanhas, nem de sofismas, senão que tenho me esforçado em agir honestamente ao manter o debate. Mas ai de mim! Pois, o desejo que tive, e o zelo, se podem assim ser chamados, foram tão frios e tão lentos que sinto que sou um devedor a tudo e em toda parte, e que isto, não foi por sua infinita bondade, toda afeição que tive poderia ser como fumaça, e não somente isto, que desde os favores que Ele me concedeu poderiam senão render-me maior culpa; de modo que o meu único recurso é este, que sendo Pai de misericórdia, Ele me apresentará diante do Pai, sendo eu um tão miserável pecador. Além disso, desejo que o meu corpo, após o meu falecimento, seja enterrado conforme o modo usual, para a espera do dia da bendita ressurreição.
A respeito dos poucos bens terrenos que Deus me deu aqui para dispor-los, eu nomeio e indico como o meu único herdeiro, meu amado irmão Antony Calvino, mas somente como honrado herdeiro, concedendo-lhe o direito de possuir nada mais, senão a taça que ganhei de Monsieur de Varennes,[1] e suplico-lhe que fique satisfeito com isto, como eu estou bem certo de que ele será, pois ele sabe que fiz isto por nenhuma outra razão, senão que o pouco que deixo possa permanecer para os seus filhos. Em seguida, deixo para a Academia dez moedas de cinco xelins, e para o tesouro dos pobres estrangeiros a mesma soma.[2] Igualmente, para Jane, filha de Charles Costan e minha meia-irmã,[3] por assim dizer, por parte de pai, a soma de dez moedas de cinco xelins; e ainda, para cada um de meus sobrinhos, Samuel e João, filhos de meu supracitado irmão,[4] quarenta moedas de cinco xelins; e para cada uma de minhas sobrinhas, Anne, Susannah e Dorothy deixo trinta moedas de cinco xelins. Também para o meu sobrinho David e seu irmão, pois ele tem sido imprudente e inseguro, deixo-lhe, porém, vinte e cinco moedas de cinco xelins como uma punição.[5] Este é o total de todos os bens que Deus me deu, de acordo com o que fui capaz de avaliar e estima-los, quer sejam em livros,[6] mobília,[7] objetos de prata, ou qualquer outra coisa. De qualquer modo, é possível que o resultado da venda remonte a alguma coisa mais, entendo que poderia ser distribuído entre meus citados sobrinhos e sobrinhas, sem excluir David, se Deus tiver lhe concedido graça para ser mais moderado e sério. Mas, creio que a respeito deste assunto não haverá dificuldade, especialmente quanto as minhas dívidas que serão pagas, como tenho encarregado a meu irmão em quem confio, nomeando-o executor deste testamento junto ao respeitável Laurence de Normandie, concedendo-lhes poderes e autoridade para fazer um inventário sem qualquer forma judicial, e negociar minha mobília para levantar dinheiro dela de modo a consumar as orientações deste testamento como ele está aqui firmado por escrito, neste dia 25 de Abril de 1564.
Testemunho com a minha mão,
JOÃO CALVINO.

Após ser escrito como está acima, no mesmo instante o citado respeitável Calvino subscreveu com a sua usual assinatura o registro do citado testamento. E no dia seguinte, que foi 26 do mês de Abril, o citado respeitável Calvino chamou pela uma segunda vez junto aos respeitáveis Theodore Beza, Raymond Chauvet, Michael Cop, Louis Enoch, Nicholas Coladon, Jacques Desbordes, ministros da Palavra de Deus nesta igreja, e o respeitável Henry Seringer, professor de letras, todos os burgueses de Genebra, na presença de quem ele declarou que tinha determinado-me escrever sob ele, e com o seu ditado, o citado testamento na forma, e com as mesmas palavras que estão acima, dizendo-me para que o lesse em alta voz na presença das ditas testemunhas convidadas para este propósito, o que eu fiz com uma voz audível, e palavra por palavra. Depois desta leitura, ele declarou que esta era a sua vontade e último disposição, desejando que pudesse ser realizado. E assim, para maior confirmação do mesmo, solicitou as pessoas supracitadas que também assinassem-na comigo, em Genebra, na rua chamada Des chanoines, na residência do citado testador. Com fé disto, e para servir por suficiente prova, tenho redigido na forma como acima está apresentado o presente testamento, de modo a expedi-lo a quem o é de direito, sob o comum selo dos nossos mais honrados senhores e superiores e com a minha usual assinatura.
Testemunho com a minha mão,
P. CHENELAT.

Notas:
[1] Nota do editor: Guilhaume de Trie, Lorde de Varennes. Ele morreu em 1562, deixando a guarda de seus filhos à Calvino.
[2] Nota do tradutor: Este “tesouro dos pobres estrangeiros” era um fundo de reserva que a cidade de Genebra tinha para socorrer os refugiados, que por motivos políticos ou teológicos eram expulsos de suas pátrias, e procuravam acolhida nesta cidade. Durante o retorno de João Calvino para Genebra esta cidade em pouco tempo tornou-se não somente um local de referência para a Reforma teológica, mas também para o pensamento econômico, político e social. O próprio Calvino sabia o que era andar errante como um “pobre estrangeiro”.
[3] Nota do editor: Mary, filha de um segundo casamento de Gérard Calvino. Ela deixou Noyon em 1536, para acompanhar os seus irmãos, João e Antony para a Suíça.
[4] Nota do editor: Anthony Calvino teve com a sua primeira esposa dois filhos, Samuel e Davi, e duas filhas, Anne e Susannah; com a segunda, um filho, João, que morreu sem deixar posteridade em 1601, e três filhas, Dorothy, Judith e Mary, que morreram da praga em 1574.
[5] Nota do editor: Este David, bem como o seu irmão Samuel, foram deserdados por Antony Calvino, por causa de sua “desobediência”.
[6] Nota do editor: Os livros de Calvino foram comprados após a sua morte pelo lorde, como podemos ver nos registros do concílio do dia 8 de Julho de 1564: “resolvido comprar para a república os tais livros do senhor Calvino, como o senhor Beza melhor julgar.”
[7] Nota do editor: Uma parte da mobília pertencia a república de Genebra, como é provado pelo inventário preservado nos arquivos (No. 1426). Extraímos desta lista os artigos emprestados para o reformador, do dia 27 de Dezembro de 1548, e devolvidos ao lorde após a sua morte.

Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980), pp. 249-253.

sábado, maio 05, 2007

A abrangência dos decretos de Deus

A Escritura muitas vezes fala dos decretos de Deus, que é a Sua soberania, as determinações eternas de tudo o que é, do que foi, e do que será na criação, na história, e na salvação. Mas, de fato, estão predeterminadas todas as coisas?

A Escritura ensina de modo muito claro que Deus preterminou tudo. Ele decretou:
  • A terra e os seus fundamentos (Pv 8:29).
  • O mar e os seus limites (Jó 38:8-11).
  • A chuva (Jó 28:26).
  • O sol, a lua e as estrelas (Sl 148:3-6).
  • O tempo e os períodos da história (Is 46:9-10).
  • As fronteiras e as diferenças étnicas das nações (At 17:26).
  • O nosso nascimento e carácter (Sl 139 15-16).
  • O curso da vida (Jr 10:23), cada pensamento e palavra (Pv 16:1).
  • O poder e a autoridade dos homens, bem como a sua incredulidade (Êx 9:16).
  • A impiedade dos homens (1 Pe 2:8), incluindo a maldade daqueles que crucificaram Cristo (At 4:24-28).
  • A vinda do reino anticristão (Ap 17:17).
  • A condenação dos ímpios (Mt 26:24-25; Rm 9:22).
  • O julgamento dos anjos caídos (Jd 6).
  • O fim de todas as coisas (Is 46:10).
  • O nascimento (Sl 2:7-8), a vida (Lc 22:22) e a morte (Ap 13:8) de Cristo.
  • Cada parte da salvação, incluindo o chamado (Rm 8:28), a fé daqueles que creêm (At 13:48), a justificação (Rm 8:30), a adoção (Ef 1:5), a santidade e as boas obras (Ef 1:3-4; 2:10), e a herança da glória (Ef 1:11).
  • Todas as coisas no céu, na terra e no inferno (Sl 135:6-12).

É possível que seja difícil para um crente aceitar este ensino. Entretanto, isto significa para outros que para o crente não são os ímpios, nem os demônios, mas apenas Deus está no controle de tudo o que existe.

Isto significa que nada acontece por acaso - especialmente que nada ocorre com o povo de Deus que não esteja determinado pelo Seu Pai celestial. Assim, todas as coisas, cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, pois o Seu Pai tudo decretou.

O desconhecimento da soberana determinação de Deus sobre todas as coisas é a razão porque “homens desmaiarão de terror, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas” (Lc 21:26). Sem um soberano Deus decretando, eles são sem esperança (Ef 2:12).

Confessemos diante do mundo que “o nosso Deus está nos céus; tudo faz segundo o Sua boa vontade” (Sl 115:3).

Extraído de Ronald Hanko, Doctrine according to Godliness - A Primer of Reformed Doctrine, p. 73

quarta-feira, abril 04, 2007

Ética Calvinista

A ética Calvinista depende da revelação. A diferença entre o certo e o errado não é identificado pela descoberta empírica da lei natural, como pensam Aristóteles e Tomás de Aquino, nem pelo formalismo lógico de Kant, e certamente, não é pelo impossível cálculo do utilitarianismo do bem maior alcançada pela soma do maior número, mas pela revelação de Deus dos Dez Mandamentos. Esta revalação vem primeiro do ato de Deus criar o homem à Sua própria imagem, de modo que determinados princípios morais básicos foram implantados em seu coração, antes de ser viciado no pecado; segundo, houve especiais instruções que foram entregues a Adão e a Noé, que anulam a dúvida e aumenta a dádiva interna; terceiro, uma revelação mais completa foi entregue a Moisés; e ainda, em quarto lugar, os vários preceitos complementares no restante da Bíblia. (...) O Calvinismo define o pecado como sendo algo fora de conformidade ou em transgressão à lei de Deus. Salvo pela graça, como ele é, salvo do pecado e dos seus efeitos, o cristão é santificado constantemente por uma mais completa obediência dos Dez Mandamentos.

Extraído de Gordon H. Clark, Essays on Ethics and Politics, p. 3-4, 6