sexta-feira, agosto 11, 2006

As palavras são o que são na Palavra de Deus

A concepção ortodoxa da inspiração também declara que a revelação bíblica é proposicional em natureza; ela ensina uma verdade proposicional. Proposições são lógicas, com importantes combinações de palavras que declaram alguma coisa. Elas possuem o significado das sentenças declaradas. A verdade da Escritura não está "em meio", "acima", ou "além" das palavras, ou somente na mente do intérprete. Nem estão as palavras secretamente simbolizadas, insinuando alguma verdade mais "elevada" ou "profunda". Pelo contrário, a verdade de Deus repousa no significado lógico e organização que as palavras possuem. Nem numerologistas, nem poetas, nem aqueles que vêem códigos acrósticos na Escritura que compreende a Escritura. A verdade de Deus vem via o nosso entendimento das proposições da Escrituras conforme as regras ordinárias da gramática e da lógica (que estão presentes na Escritura). Por isso, a Bíblia não contém paradoxos lógicos.

Extraído de W. Gary Crampton, By Scrypture Alone, p. 78

Cristianismo é uma cosmovisão

O Cristianismo é uma religião, histórica em sua origem, e que pretende repousar na revelação divina. Mas, ainda que não seja um sistema científico, nem uma filosofia, contudo, tem uma cosmovisão própria, a qual se mantém aderida firmemente, tanto no que se refere ao seu postulado fundamental de um Deus pessoal, santo e que se revela, como pelo seu conteúdo como uma religião da Redenção.

Extraído de James Orr, Concepción Cristiana de Dios e el Mundo, p. 14

quinta-feira, agosto 10, 2006

General Thomas J. "Stonewall" Jackson


"As minhas convicções religiosas ensinam-me a sentir-me tão seguro na batalha como em minha cama. Deus fixou o tempo da minha morte. Não me preocupo comigo além do que preciso, mas sempre estou pronto para tudo o que possa acontecer-me. Esta é a maneira como todos os homens deveriam viver, e todos seriam igualmente bravos."

Nota do tradutor: o general Thomas J. "Stonewall" Jackson morreu por um disparo acidental de um soldado de sua própria tropa em 1863, durante a trágica Guerra Civil Americana. Foi enterrado na Igreja Presbiteriana em Lexington, no estado da Vírginia. A biografia do general foi escrita pelo teólogo presbiteriano Robert L. Dabney num livro com o título de Life and Campaigns of Lt. General Thomas J. Jackson.

O "reigrejar" do Pentecostes

Com o derramamento do Espírito, o qahal, o povo de Deus consolidado no Antigo Testamento, chegou a ser a ekklesia, o corpo de crentes constituído pelos “chamados de fora” no Novo Testamento. Esta transição histórica, redentora, reflete tanto a continuidade como descontinuidade com o passado.

No Pentecostes a igreja não nasceu, senão que renasceu. Teve lugar à atualização. A humanidade renovada estava amadurecendo. Todavia, a história da igreja como povo de Deus retrocede ao passado, ao começo, ao chamado daquela primeira comunidade humana de “passear com Deus na viração do dia”, e de ser seus mordomos no meio da criação. Como resultado da queda, como imagem de Deus nos “desigrejamos”. Então Deus interveio com a sua graça para “reigrejar” a humanidade caída por meio da linhagem dos crentes Sete, Enoque, e Noé. Com o chamado de Abraão começou a existir a fase da igreja do Antigo Testamento, como um povo escolhido para preparar o cominho do Messias que viria. Por isso, Israel é a oliveira original de Deus. Mesmo que algumas de suas ramas tenham se perdido, a raiz ainda vive. Nessa raiz recebe a vida (Rm 11:17-21).

Com o Pentecostes os gentios compartilham das riquezas do “bem comum de Israel”. Porque Cristo derrubou “o muro da separação da inimizade” entre judeus e gentios, criando assim “uma nova humanidade no lugar de duas”. Agora, todos têm “acesso no Espírito ao Pai, e são “membros da família de Deus”, um “templo santo no Senhor”. Esta grande reunião se baseia em fundamentos lançados no testemunho conjunto dos apóstolos e dos profetas (Ef 2:11-22). Por isso, Estevão podia falar da presença de Cristo “na igreja no deserto” (At 7:38). Esta igreja do deserto bebeu da “Rocha espiritual... e a Rocha era Cristo” (1 Co 10:4).

Extraído de Gordon J. Spykman, Teologia Reformacional - un nuevo paradigma para hacer la dogmática, p. 468

terça-feira, agosto 08, 2006

Toda a Escritura é inerrante

Aqueles que negam a inerrância dos autógrafos originais da Escritura, e se esforçam em introduzir esta concepção da Crítica Bíblica, reivindicam a base nos padrões de Westminster. Nós propomos apresentar que a Confissão de Westminster ensina que as Escrituras em sua primeira forma, assim como procederam dos profetas e apóstolos, foram livres de erros em todas as suas partes, tanto segundárias como primárias.

Extraído de William G.T. Shedd, Calvinism: Pure & Mixed, p. 132

O verdadeiro arrependimento

O arrependimento não é mera tristeza pelo pecado, nem é um mero remorso. É uma tristeza divina que inclui um elemento de ódio pelo pecado e uma determinação em abandoná-lo e viver uma vida santa.

Extraído de D.Martyn Lloyd-Jones, Por qué lo permite Dios?, p. 17

Falar em línguas é sinal da sã espiritualidade?

É muito difícil defender que o falar em línguas do modo como hoje prevalece seja um sinal de espiritualidade cristã quando, segundo muitos observadores, o mesmo fenômeno pode ser encontrado entre as religiões não cristãs tais como a religião muçulmana. O mesmo problema está inerente na incidência do falar em línguas entre os católicos romanos da Renovação Carismática. Não vamos por causa da indisposição negar que muitos católicos romanos são devotos, ainda que sejam cristãos mal orientados, mas é difícil crer que qualquer um que desfrute de uma grande medida da plenitude do Espírito possa ter pouco entendimento da Bíblia, e tão pouca compreensão da experiência da salvação, que possibilite a adoração de imagens, render homenagem à virgem Maria, e distanciar-se (mediante um anátema) da doutrina de Lutero acerca da justificação.

Extraído de Donald MacLeod, El Bautismo con el Espíritu Santo, p. 60.

segunda-feira, agosto 07, 2006

O que é oração?

Orar é derramar o coração, ou a alma, de modo sincero, consciente e afetuoso; derramando diante de Deus, por meio de Cristo, no poder do Espírito Santo, buscando as coisas que Deus prometeu, ou que estão em conformidade com a Sua Palavra, para o bem da Igreja, com fiel submissão à vontade de Deus.

Extraído de John Bunyan, La Oración, p. 5.

A cessação dos dons sobrenaturais

Assim como houveram ofícios extraordinários (apóstolos e profetas) no começo da nossa dispensação, também houveram dons extraordinários; e como não houveram sucessores designados para estes ofícios extraordinários, muito menos houve a intenção de continuar esses dons extraordinários. Os dons dependiam dos ofícios. Não temos mais os apóstolos conosco, e conseqüentemente, também não possuímos mais os dons sobrenaturais, a comunicação dos quais constituiram parte essencial dos sinais de um apóstolo estão ausentes (2 Co 12:12).

Extraído de A.W. Pink, The Holy Spirit, p. 179.

Dons revelacionais cessaram com os apóstolos

Estes dons [revelacionais] não foram possuídos pelo cristão da Igreja primitiva como tal, nem pela Igreja apostólica ou o período Apostólico por si mesmo; tais dons foram distintivamente a autenticação dos apóstolos. Constituiram parte das credenciais dos apóstolos em sua qualidade de agentes autorizados por Deus no estabelecimento do fundamento da Igreja. A sua função, pois, os delimitou à Igreja apostólica, de maneira distintiva, e necessariamente desapareceriam com ela.

Extraído de B.B. Warfield, Counterfeit Miracles, p. 6.

A tentação transformada em benção

A tentação opera para o bem [dos eleitos] ao reduzir o inchaço produzido pelo orgulho. "Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar" (2 Co 12:7). O espinho na carne tinha o objetivo de esvaziar o envaidecer do orgulho. É melhor a tentação que me humilha do que o dever que me ensoberbece. Antes de permitir que um cristão seja altivo, Deus lhe deixará cair nas mãos do diabo, por um tempo, para que se cure do seu abscesso.

Extraído de Thomas Watson, Consolación Divina, p. 37.

sábado, agosto 05, 2006

Deus sabe o que Ele determina

A única maneira de que algum objeto ter ocorrido na mente de Deus do meramente possível ao inevitavelmente certo, é se o próprio Deus houvesse determinado levar a cabo, ou que houvesse permitido de maneira intencional e deliberada por meio de outro agente que expressamente houvesse criado para tal propósito. Um efeito concebido potencialmente somente ocorre mediante uma ou mais causas eficientes. Quando Deus contempla todo o universo, da perspectiva de sua presciência infinita, somente havia uma causa, ou seja, Ele mesmo; portanto, se alguma outra causa surgir, tal causa subordinada teria a Deus como causa fundamental. Se a presciência infinita de Deus encerra em si efeitos que serão produzidos por estas causas subordinadas, então, Deus ao decretar tais causas, em Sua infinita presciência, decretou ou determinou igualmente todos os demais efeitos.

Extraído de Robert L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, p. 212

Deus não mente

Deus também conhece o que é impossível. Desde que Ele conhece a si mesmo, ele sabe que não pode mentir. Esta "inabilidade" não é um limite da sua onipotência; ela simplesmente significa que tudo quanto Deus declara é ipso facto verdadeiro. Ao dizer que Deus pode mentir é um entendimento errôneo da natureza de Deus, como dizer que um triângulo tem apenas dois lados é um entendimento errôneo da natureza do que é um triângulo.

Extraído de Gordon H. Clark, Predestination, p. 41

sexta-feira, agosto 04, 2006

O desenvolvimento do decreto

Na infinita sabedoria do Senhor de toda a terra, cada evento acontece precisamente no lugar que lhe corresponde no desenvolvimento do plano eterno; coisa alguma, não importa quão pequena, nem tão estranha seja, ocorre em sua ordem, ou em sua adaptação particular do lugar que lhe corresponda no desenvolvimento dos seus propósitos; e o fim de tudo será a manifestação da Sua glória. Esta é a filosofia do universo que apresenta não apenas o Antigo, mas também o Novo Testamento - uma perspectiva universal que apresenta uniformidade concreta no absoluto decreto, o propósito, o plano, do qual tudo o que acontece não é senão o seu desenvolvimento no tempo.

Extraído de B.B. Warfield, Biblical Doctrines, p. 22.

Quão discutida é a predestinação!

O exame sério desta grande doutrina [da predestinação] nos conduzirá aos mais profundos e inacessíveis temas que possam ocupar a mente dos homens - a natureza e os atributos, os propósitos e operações do infinito e incompreensível Jeováh - vistos de maneira especial em suas relações com o destino eterno de suas criaturas inteligentes. A natureza peculiar do tema exige, e com razão, que sempre nos aproximemos e o consideremos com a mais profunda humildade, cautela e reverência, já que isto trata, por um lado, de um tema tão terrível e assustador como é o da miséria eterna de uma multidão incalculável de nossos semelhantes. Muitos têm discutidos o tema neste espírito, mas também há outros que se dão à especulação presunçosa e irreverente. É possível, que não exista outro tema que tenha chamado mais atenção dos homens em todas as épocas. Tal tema é discutido as suas implicações em todas as suas relações, tanto filosóficas, teológicas e práticas; e se há algum tema de especulação com relação ao qual nos for lícito dizer que tenha sido esgotado, é este.

Extraído de William Cunningham, Historical Theological, vol. II, p. 418.

quinta-feira, agosto 03, 2006

O que é lícito?

Qualquer coisa deve ser considerada como indiferente até que se prove ser pecaminosa, não o contrário. Um homem é considerado inocente até que se prove a sua culpabilidade. Não há nada mais falso e perigoso do que as idéias de alguns mestres religiosos, de que um assunto deve ser tomado como pecaminoso a menos que se prove que é indiferente. Quando existe a dúvida acerca da matéria, ou assunto, como sendo ou não pecaminoso em si, deverá deixar-se decidir a consciência individual. Se o ensino das Escrituras acerca de um assunto particular aparece duvidoso ou obscuro, e ainda quando tenha aparência de contraditório, será o melhor motivo para que as igrejas não se pronunciem com autoridade sobre tal matéria, ou assunto. O que Deus não revelou com clareza não tratem as igrejas de determiná-lo, Deus nos livre de intentar ter uma norma mais clara do que a Bíblia, ou um número mais completo d eleis morais do que as que contêm a Palavra de Deus.

Extraído de Johannes G. Vos, The Separate Life, p. 18.

A doutrina e prática cristã

O alicerce da prática cristã deverá estar baseado no conhecimento e na fé cristã. Devemos compreender, em primeiro lugar, como recebemos a Cristo Jesus, e assim saberemos, em segundo lugar, como andar melhor com Ele.

Extraído de Matthew Henry, Commentary on the Whole Bible, vol. VI, p. 454.

Uma obra completa

Os sentimentos do crente, vistos em Cristo, como se descrevem ao final deste capítulo (Rm 8:31-39), oferecem um notável contraste com o que se diz ao final do capítulo anterior, onde se vê o crente em suas próprias forças. Examinando-se como realmente é, um pecador, o crente exclama gemendo: "miserável homem que sou!" Mas, observando-se justificado em Cristo, o crente ousa perguntar: "quem me acusa?", "quem me condena?" A pessoa que ama a Deus pode desafiar todo o universo que lhe separe do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, seu Senhor. Apesar de que, no presente toda a criação geme e a um só tempo, geme dores de parto, apesar do próprio crente gemer dentro de si, apesar disto, todas as coisas cooperam para o bem. O Espírito Santo está intercedendo por ele, em seu próprio coração; Jesus Cristo está intercedendo por ele diante do trono de Deus; o Deus Pai lhe escolheu na eternidade, lhe chamou, lhe justificou e finalmente lhe coroou com glória. O apóstolo Paulo deu início a este capítulo declarando que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus; e o que se conclui com a segurança triunfante de que não há separação possível entre o crente e o amor de Deus. A salvação do crente é completa em Cristo, e sua união com Ele é indissolúvel.

Extraído Robert Haldane, Exposition of the Epistle to the Romans, p. 438.

A segurança do crente

Aqui [Rm 8:1-39] se vê que a salvação daqueles que renunciaram a lei, e aceitaram a misericordiosa oferta do Evangelho, é absolutamente certa. Todo o capítulo é uma série de argumentos maravilhosamente estabelecidos para provar esta segurança. Cada um deles está traçado e dirigido para uma fonte de esperança e segurança, o imerecido e imutável amor de Deus em Cristo Jesus. A declaração está contida no primeiro versículo: "agora, pois, não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus." Estes nunca serão condenados, nem perecerão.

Extraído Charles Hodge, Commentary on the Romans, p. 247.

quarta-feira, agosto 02, 2006

A inspiração da Escritura

Os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo Espírito Santo, envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, e que eles foram preservados livres de todo erro, fazendo com que os seus escritos sejam inteiramente autênticos e divino.

Francis Turrentin citado em W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology (1888), vol. 1, 72.

A inspiração dos livros canônicos

O registro dos livros canônicos vieram à existência pela especial e direta atividade do Espírito Santo, que impulsionou os autores a escrever, dando-lhes os pensamentos e as palavras que eles deveriam registrar, e preservando-lhes de algum erro em seus escritos. Em outras palavras, os escritos canônicos são em conteúdo e em forma inspirados em seus autores pelo Espírito Santo.

Extraído de Heinrich Heppe, Reformed Dogmatics (1861), p. 16.

terça-feira, agosto 01, 2006

Cristo nos livra do pecado

Se um homem não se identifica com o propósito de Cristo de destruir o pecado, e se em lugar de dor e aborrecimento contra o mal, acaricia a idéia de que pode continuiar pecando para que a graça abunde, a conclusão inevitável é que este homem não conhece a Cristo, e não foi justificado. Mais claramente dizendo: é psicologicamente impossível confiar no sangue redentor de Cristo e desejar continuar vivendo no pecado. A santificação não é meramente o propósito da justificação, como se o propósito pudesse resultar falido, mas é o seu resultado inevitável.

Extraído de Gordon H. Clark, "Romans" The Biblical Expositor, p. 248.

Punição terrível

Com freqüência, Deus castiga um pecado abandonando o pecador a cometer outros. Paulo repete esta idéia três vezes, nos versos 24, 26 e 28. Este abandono judicial está em conformidade, e não é incompatível com a santidade de Deus e a livre agência do homem. Deus não incita ao mal, muito menos o refreia. Referindo-se ao pecador, Deus diz: "deixemos-no entregue a si mesmo" (vs. 24-28).

Extraído de Charles Hodge, Commentary on the Romans, p. 45.

segunda-feira, julho 31, 2006

Carta de Calvino à Lutero

21 de Janeiro de 1545

Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr M. Lutero,[1]

meu tão respeitado pai.

Quando disse que meus compatriotas franceses,[2] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão,[3] e que eles continuam a corromper-se com a sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece. O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mente submergindo sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, em que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza que em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos de nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada.

Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. Eles têm requisitado-me de enviar um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande conseqüência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram.

Agora, entretanto, mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epistola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras. De fato, estive indisposto em incomodar você em meio de tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessitado do caso; entretanto, confio que você me perdoará.

Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus. Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai. O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.

[1] Nota do tradutor: o especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela é a única que Calvino escreveu a Lutero.

[2] Nota do tradutor: pelo que parece Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com uma confissão de fé reformada, mas na prática ainda preservavam os ídolos, toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.

[3] Nota do tradutor: Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.

Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductiory biographical sketch, pp. 71-73.

domingo, julho 30, 2006

Onisciência e soberania de Deus

Se Deus não sabe o que as suas criaturas farão, incluindo o homem, então, se inclui no universo um fator de incerteza e ao mesmo tempo inexplicável. É possível examinar este fator inexplicável? Podemos sustentar se, de fato, Deus não conhece as coisas que irão acontecer às pessoas que criou, pode Ele ainda pode governar o restante do universo de maneira ordenada? Não se pode de modo algum sustentar isto. Há uma maravilhosa coerência no curso do mundo; não se pode separar da forma que essa teoria o faz, uma parte do geral. Se Deus não sabe o que os seres humanos farão, então o curso de todo o mundo está envolto numa grande confusão. Então, a ordem da natureza deixa de ser algo ordenado.

Extraído de J.G. Machen, Visión Cristiana del Hombre, pp. 32-33.

Sola et tota Scriptura

Toda doutrina que pode ser ensinada aos teólogos também pode ser ensinada às crianças. Ensinamos uma criança que Deus é um Espírito, presente em todo lugar e que conhece todas as coisas; e ela consegue entender isto. Falamos lhe que Cristo é Deus e homem em duas distintas naturezas e uma pessoa para sempre. Isto para uma criança é leite, mas em si contêm alimento para os anjos. A verdade expressa nestas proposições podem ser expandidas ilimitadamente, e fornecer alimento para o mais alto intelecto por toda eternidade. A diferença entre o leite e o alimento reforçado, de acordo com esta concepção, é simples, é a distinção entre o maior e o menor desenvolvimento do conteúdo ensinado.

Extraído de Iain Murray, Preface in: Collected Writings of John Murray, vol. 1, p. xii.

Segurança eterna

Posso imaginar claramente o terror que deve infundir numa alma sensível ao sentir a insegurança de sua salvação, e estar constantemente consciente da terrível possibilidade de cair da graça, seguida talvez por uma longa e penosa vida cristã, como ensina o arminianismo. Pessoalmente, jamais pude abraçar tão aterradora doutrina que enche a alma de constantes e inexpressáveis dúvidas. Sentir que cruzo o tempestuoso e perigoso mar da vida dependendo para minha segurança final de minha traiçoeira natureza, produziria em mim uma perpétua insegurança. Não, eu melhor desejaria saber que a embarcação em que tenho confiado minha vida é apropriada para a navegação e que, a embarcar nela, haverei de alcançar seguramente meu destino.

Extraído de N.S. McFetridge, Calvinism in History, vol. 2, p. 112

Vida eterna?

Se a teoria arminiana estiver correta, de que um crente que nasceu de novo pode perder a fé e condenar-se, então, a última coisa que poderia ser dita é que o crente possuí vida eterna. Poderia ser dito que o crente possuí vida boa, ou vida santa, ou vida sobrenatural, ou vida feliz; mas nunca poderia se dizer que possuí vida eterna. Porque segundo o arminiano não possuí vida eterna. Possuí uma vida temporal, vida momentânea, vida finita, mas não uma vida que nunca termina.

Extraído de Edwin H. Palmer, Doctrinas Claves, p. 126

A permanente graça de Deus

Deus não foi induzido a dar a sua graça ao pecador, em primeira instância por haver visto algo meritório, ou atrativo no pecador que se arrepende; portanto, a subsequente ausência de todo bem no pecador não pode ser um motivo novo para que Deus retire dele a sua graça. Quando Deus conferiu a sua graça ao pecador, ele sabia perfeitamente que o pecador era totalmente depravado e odiável; portanto, nem a ingratidão, nem a infidelidade por parte do pecador convertido pode ser motivo que induza a Deus de mudar de opinião, ou seja, para retirar sua graça. Deus disciplinará tal ingratidão e infidelidade retirando temporariamente o seu Espírito, ou suas misericórdias providenciais; mas se o seu propósito desde o princípio não fosse de suportar tais pecados e perdoá-los em Cristo, ele não teria sequer chamado ao pecador. Em outras palavras, as causas pelas quais Deus determinou conferir o seu amor eletivo ao pecador se encontram totalmente Nele, e não no crente; consequentemente, nada no coração, ou na conduta do crente pode finalmente alterar esse propósito divino.

Extraído de R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, pp. 690-691.

sexta-feira, julho 28, 2006

Perecerão os que nunca ouviram o evangelho?

Todos os homens são culpados diante de Deus por duas causas. Primeiro, por causa do pecado de Adão, que foi imputado a todo o gênero humano; e segundo, por causa dos próprios pecados cometidos ao transgredir a lei de Deus. A única forma em que os pecadores podem ser livres da culpa é por meio de sua fé em Cristo Jesus. Mas, e aqueles que nunca ouviram falar de Cristo e, portanto, não podem crer nEle? Estão perdidos? Perecerão no Inferno? A resposta de Paulo é: sim! Pois como explica em Rm 10:14-17, a menos que o Evangelho seja pregado aos perdidos (isto inclui a todos os perdidos, tanto pagãos como os judeus), e estes creiam nEle, eles não poderão escapar da ira de Deus. Referindo-se a Cristo, Pedro declara: “e não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12, ARA).

Aqueles que não viveram debaixo da iluminação da Palavra de Deus, não serão julgados de maneira tão rígida como aqueles que viveram sob esta Palavra, entretanto, recusam ouvir as suas advertências e aceitar as suas promessas. Isto é o que Cristo nos ensina em Lc 12:47-48: “aquele servo, porém, que conheceu a vontade do seu Senhor, não se preparou, nem obedeceu conforme a sua vontade, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez cousas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” Como Hodge disse: “os homens serão julgados pela luz que desfrutaram individualmente. A base do juízo são as suas obras; a regra para julgá-los é o seu conhecimento.”[1] Sendo que os pagãos pecam contra Deus por transgredir a lei escrita em seus corações, é óbvio que perecerão, a menos que alguém lhes leve a mensagem de Cristo; pois, não há justificação para os pecadores, senão pela fé em Cristo. Deus salva aos seus escolhidos por meio do Evangelho de Jesus Cristo; e são chamados externamente pela mensagem evangélica e interiormente pelo Espírito Santo, que lhes capacita a crer na mensagem. “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o principio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Ts 2:13-14, ARA).

Há quem crê que aqueles que nunca ouviram o Evangelho não poderão ser condenados. O seu argumento é de que “Deus não pode ser tão injusto ao condenar para o Inferno aqueles que nunca tiveram a oportunidade de aceitar ou rejeitar a Cristo.” Todavia, os mesmos que assim falam defendem o envio de missionários àqueles que ainda não ouviram o Evangelho e que, segundo o seu ponto de vista, não podem ser condenados. Parece contraditório manter a idéia de que o paganismo está seguro porque não ouvem o Evangelho, e ao mesmo tempo apoiar o movimento missionário; pois se os pagãos não podem ser condenados sem antes ouvir o Evangelho, e se depois de haverem ouvido alguns deles o rejeitam, então, não devemos pensar que os missionários, em lugar de levar a esperança e possibilidade de salvação ao pagão, lhes levam somente a condenação para aqueles que rejeitam a Cristo depois de haver ouvido a mensagem? Mas como Paulo demonstra em Romanos, os homens se perdem não porque rejeitam a Cristo, mas por causa dos seus pecados. E, se vão crer no Evangelho de Cristo, que lhes liberta da culpa do pecado, deverão primeiro ouvi-lo. Portanto, o envio de missionários é absolutamente um imperativo, se quisermos que o incrédulo seja salvo.

A Escritura guarda silêncio quanto à salvação daqueles que são incapazes de compreender e crer no Evangelho (isto é, as crianças e os doentes mentais, etc.). Mas, é suficiente conhecer e saber que o Juiz do mundo fará o que é correto. Que estes necessitam da salvação está claro pelo fato de que a raça humana foi contaminada com o pecado de Adão (Rm 5:12-19); mas não nos diz nada a respeito da provisão feita por eles. Uma coisa é certa: se forem para o céu, terão que ir pelos méritos de Cristo, e não por serem inocentes, ou por estarem livres da culpa. Quando consideramos este assunto devemos ter em conta as palavras de Dt 29:29: “As coisas secretas pertencem ao SENHOR o nosso Deus; mas as reveladas são para nós e para os nossos filhos”.

[1] Charles Hodge, Romans, p. 53.

Extraído de David N. Steele & Curtis C. Thomas, Romanos Un Bosquejo Explicativo pp. 121-123.